terça-feira, dezembro 23, 2008

Há alguns dias, assisti a peça "Queixo-me mudo pois escuta-me surdo", que tinha o "nada" como tema. Das muitas cenas legais do espetáculo, me encantei com uma, que teve como base um texto da escritora polonesa Wislawa Szymborska. Para inaugurar essa nova fase do blog, reproduzo o texto que, na minha modesta opinião, faz todo sentido:

Uma contribuição para a estatística

De cada 100 pessoas

as que sempre sabem mais do que os outros
– 52

inseguras a cada passo
– quase todas as outras

felizes por ajudar
desde que isso não lhe tome muito tempo
– no máximo, 49

sempre boas
porque não podem ser de outro jeito
– 4, bem, talvez 5

capazes de admirar sem inveja
– 18

induzidas ao erro,
pela juventude tão efêmera
– mais ou menos 60

com quem não se brinca
– 44

vivendo com medo constante
de algo ou alguém
– 77

dotadas para a felicidade
– 20 e poucas

inofensivas quando sozinhas, selvagens em multidão
– metade, pelo menos

cruel
quando exigido pelas circunstâncias
– melhor não saber, nem mesmo aproximadamente

sábias depois dos fatos
– apenas um pouco mais que as sábias antes deles

pedindo da vida apenas coisas
– 30
(Eu gostaria de estar enganada)

encurvadas em sofrimento
sem uma luz na escuridão
– 83,
cedo ou tarde

justa
– 35, o que já é bastante

justas
e compreensivas
– 3

dignas de compaixão
– 99

mortais
– 100 de 100
até agora, número que não é possível mudar

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