quarta-feira, novembro 17, 2010

LUIZ FERNANDO VIANNA

Leide, Renato e Dilma
RIO DE JANEIRO - Leide Moreira, 62, perdeu os movimentos por conta de uma doença degenerativa e precisa de ajuda alheia ou de aparelhos para se comunicar, respirar e até piscar.
Tantos obstáculos não a impediram de ir ao show de Ney Matogrosso no último domingo, no Sesc Pinheiros, e se emocionar, como relatou Laura Capriglione em belo texto publicado ontem na Folha.
Renato de Souza Ferreira morreu na quinta-feira passada, aos 26 anos, em Recife. Antes, porém, sabendo-se sem chances contra um câncer renal, tratou de casar com a mulher amada, segundo reportagem de Letícia Lins publicada domingo no "Globo".
A festa inaugurou a "caixa de desejos" do Imip (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira), que vem desenvolvendo um trabalho de cuidados paliativos, ala fundamental voltada para dar alento em vez de agonia aos doentes terminais.
As histórias de Leide e Renato -que, numa leitura superficial, poderiam ser sobre morte- imprimiram vida às páginas de jornal num momento em que se gastam boas doses de tinta em especulações sobre o ministério de Dilma Rousseff.
Ela tem dado sinais de que não está com pressa de anunciar nomes, mas, por necessidade (informar algo ao leitor sobre um tema relevante) ou inércia, continuamos fazendo girar o rondó de fofocas que se autoalimenta: políticos usam a imprensa para divulgar suas vontades, e pelos jornais ficam sabendo das vontades dos rivais.
O silêncio de Leide na plateia de Ney e a decisão de Renato de casar são mais expressivos e saudáveis do que as caixas de desejos do PMDB e de seus similares.
"O hoje pode não ser o amanhã, e o amanhã pode ser tarde demais", ensinou Renato a quem tem calma para ouvir.

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