quinta-feira, janeiro 20, 2005

Terminei ontem de ler o livro mais recente do doutor Drauzio Varella, Por um fio. O médico, que adora um desafio (todo mundo sabe que ele foi voluntário no Carandiru e é especialista em oncologia, precisa mais?) conta toda a sua experiência com pacientes que viveram com a perspectiva da morte. E é engraçado perceber como falar da morte pode dar dicas preciosas para a vida.

Vou deixar três trechinhos aqui só para vocês ficarem com vontade de ler o livro todo:

"Nas limitações ao funcionamento do corpo, as expectativas em relação ao que nos cerca podem mudar radicalmente - o essencial tornar-se supérfluo, e vice-versa, numa fração de segundo. Um doente que não consegue se alimentar há uma semana é capaz de chorar de emoção ao engolir três colheradas de sopa de mandioquinha; outro comemora a proeza de andar até o banheiro com a alegria de quem ganhou a maratona de Nova York. Só quem padece de dores contínuas conhece o prazer de passar duas horas sem elas"

"Para curar, muitas vezes a técnica basta; mas para conseguir que um doente viva o máximo de tempo com a menor carga de dor e encontre a morte com tranquilidade, é preciso muito mais. A tarefa demanda não só conhecimento científico, mas compreensão da alma humana em profundidade apenas acessível aos que se dedicam com empenho ao penoso processo de aprendizado que o contato repetido com a morte traz."

"Custei a aceitar a constatação de que muito dos meus pacientes encontravam novos significados para a existência ao senti-la esvair-se, a ponto de adquirirem mais sabedoria e viverem mais felizes que antes, mas essa descoberta transformou minha vida pessoal: será que com esforço não consigo aprender a pensar e a agir como eles enquanto tenho saúde?"

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