terça-feira, junho 16, 2009

Carta da professora Adma Fadul Muhana, que eu já admirava muito e agora admiro mais.

Mas há primaveras

A comunidade universitária e a opinião pública têm procurado, atônitas, acompanhar os acontecimentos recentes na Universidade de São Paulo. Como acreditar que professores, alunos e funcionários da USP, em especial da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, sejam criminosos cujos atos merecem ser severamente reprimidos com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e gás pimenta? Como acreditar que querem destruir seu patrimônio, agir com violência e causar danos aos demais? quem acredita nisso? por quê?

Se se compararem as informações e declarações dos últimos dias, será possível repor a situação. Em plena negociação salarial, em 25 de maio, a Reitoria fechou as portas do prédio e não deixou parte da comissão de negociação entrar. Ao agir assim e quebrar a regra da cultura democrática instituída, não era improvável que soubesse da reação dos estudantes que, impedidos de entrar, poderiam forçar a porta e fazer uma “invasão” relâmpago. Mas, depois dos acontecimentos de 2007, havia uma resolução do Conselho Universitário autorizando a Reitoria a chamar a polícia quando julgasse necessário, a qual foi aplicada.

Docentes e estudantes sabem ensinar e estudar, principalmente. Talvez até, de um modo um tanto canhestro e desafinado, também saibam protestar. Alguns estudantes gritam e chegam a tirar cadeiras e pô-las diante das salas de aula, impedindo a entrada nelas – sinais de sua impotência, de sua insegurança e da desinformação acerca de outros canais de manifestação mais legítimos e eficazes, de que os professores (ainda) dispõem. Mas essa alegada “violência” estudantil não tem parâmetro com as armas usadas pela PM, treinadas para eliminar malfeitores, e descontentes... Inacreditavelmente, a atual reitora da Universidade de São Paulo pensa que sim!

Isto é ofender a USP e todos os seus membros. Pretextando grupelhos, radicais e sabe-se lá mais o quê, a Reitoria entregou a direção da universidade a um comandante policial. Ao ser alertada por um docente de que a presença da polícia no campus poderia causar graves danos físicos e morais a membros da comunidade, e de que as armas utilizadas pelas tropas contemplavam escopetas e metralhadoras, a reitora limitou-se a dizer que a escolha das armas adequadas à ação policial não era da sua alçada. A reitora transferiu sua responsabilidade pela vida dos estudantes, professores e funcionários, das crianças e adolescentes que estudam na Escola de Aplicação, e de todos aqueles que livremente transitam pelo campus Butantã da USP, a um coronel da PM.

Os professores da USP não estavam em greve. A campanha salarial e a carreira docente importam aos professores porque sabemos o efeito nefasto que salários aviltados causam ao ensino, como temos visto na precarização do ensino secundário. Os mais velhos se lembram de como o ensino médio público era padrão de qualidade para a escola privada, o que hoje nos parece um sonho desaparecido. A recuperação salarial nos importa para que a Universidade pública não passe a ter salários tão baixos que os melhores profissionais prefiram se afastar dela e servir apenas à iniciativa privada, com seu principal interesse no lucro, e levando ao desaparecimento das investigações independentes que interessam ao coletivo. Lutar por salários, todos sabem, é lutar por deixar uma universidade com melhor qualidade e para que a USP tenha o que comemorar daqui a 25 anos.

Os estudantes da USP não estavam em greve. O temor relativo à Univesp, ou Universidade Virtual do Estado de São Paulo, provém da convicção de que a expansão virtual da Universidade se fará à custa da qualidade do ensino e em detrimento das políticas de permanência estudantil por que vêm lutando, da construção de salas de aula presenciais, bibliotecas, laboratórios, moradias e restaurantes universitários, temor compartilhado por alguns professores que relataram desconfianças na implantação do Programa.

Todos estes são assuntos importantes para homens e mulheres que, trabalhando dentro da Universidade, abdicaram de ser meros consumidores e reprodutores de um saber para, com diversas dificuldades, se tornarem sujeitos de conhecimento, de ação e de transformação da sociedade. Requeriam, pois, que decisões dessa monta fossem tomadas com o conhecimento da ampla maioria da comunidade acadêmica, e não por decretos e resoluções. Todavia, recusando-se a negociar, a esclarecer, a Reitoria da USP teve como única resposta para a dificuldade do momento inventar uma ocupação para chamar a polícia. No dia 9 de junho os professores em assembléia, pensando em conjunto como retomar as negociações, ouviram tiros e gritos que dificilmente esqueceremos. Do prédio da Reitoria, de uma de suas janelas, umas dez cabeças assistiam ao lúgubre espetáculo de alunos e professores fugindo das bombas e sendo acuados no prédio da História. Apesar disso, e embora vários colegas tenham tentado contatos com a reitora, a fim de evitar um desfecho de proporções inimagináveis, ninguém, em momento algum, atendeu aos chamados dos docentes. Contatado, finalmente, o governador se calou: as armas já tinham falado por ele. Passado o furacão, reitoria e aliados vêm a público se manifestar e justificar atos injustificáveis.

O tecido universitário está desfeito. Todos os que defendem uma universidade pública, com direito a discussões, propostas, ações solidárias e coletivas, deixamos de reconhecer a reitora como interlocutora de nossa prática acadêmica. É verdade que, dentro e fora da Universidade, há os que aprovam a ação da polícia, alegando destruição do patrimônio público; desqualificam a decisão das assembléias em favor da greve, apelando para o direito dos que querem aula, embora não compareçam a elas; contestam os piquetes de funcionários e alunos, argumentando serem contra uma “violência generalizada”. Essas mesmas vozes recorrem a proposições vagas e metafísicas, que, descoladas de seu contexto político, ridicularizam o direito “à diferença”, “à opinião” etc.; mas se calam diante de questões materiais decisivas para a Universidade estadual, como a destruição do patrimônio público perpetrada, esta sim, pela polícia e por fundações privadas instaladas no interior da USP. Negando o direito à greve e a piquetes, propõem em seu lugar que cada um faça o que bem entender, desde que confortavelmente instalados em seus gabinetes particulares, ao abrigo do espaço coletivo e presencial de discussão. Parecem supor que a condenação das assembléias de professores e estudantes é feita ainda em favor do direito do aluno, como pagador de impostos, de ter sua mercadoria-aula. Ao sobreporem a figura do consumidor à do cidadão, transferem a cultura da universidade privada para dentro da Universidade pública, transformando os grevistas em anti-cidadãos-vendedores que não cumprem sua parte no troca-troca do mercado – como se estes não pagassem também seus impostos e não tivessem direito a forma alguma de dissidência. Certamente que, assim, esse discurso cala-se diante da destruição da Universidade pública levada a cabo por governos neoliberais e encobre sua adesão à mesma ordem de coisas, sob a capa de uma pretensa motivação pacifista.

Neste sentido, a Universidade deve se envergonhar de que uma parte do seu corpo docente e discente não condene a ação policial contra atos de caráter político: pois isso significa que essa parte não se importa com o coletivo e com o tipo de conhecimento e ética que estão sendo transmitidos nessa Universidade. A sociedade deve saber disso e querer que, na Universidade de São Paulo, os professores, os médicos, os arquitetos, os atores, os engenheiros, os biólogos, os psicólogos e todos os que aí se formam, com a contribuição de todos nós, visem mais ao bem coletivo que ao seu único e próprio lucro. E fazer parte da coletividade implica ter de olhar para além do seu escritório particular, do seu consultório e da sua sala de aula.

Agora a Universidade de São Paulo está em greve, exigindo a retirada imediata e definitiva da polícia no campus, para que retornem as condições de diálogo entre todos os envolvidos. Mas desde que a Universidade foi violentada com a permissão, ou pior, a mando de seus dirigentes, os professores requerem que a atual reitora se afaste do cargo e torne a ser algo de que possa se orgulhar: professora. Oxalá, assim, o próximo reitor compreenda que uma universidade não se faz virtualmente, nem com tropas militares, mas com docentes, estudantes e funcionários preocupados com o ensino e com a pesquisa, e sobretudo, com fazer parte de uma menos triste humanidade.

Essa carta foi enviada a diversos veículos de comunicação, mas por motivos óbvios, não foi publicada.

sexta-feira, junho 12, 2009

Para manter a tradição, uma tirinha para o Dia dos Namorados:



Um bom dia e uma noite melhor ainda para todos.

quarta-feira, junho 10, 2009

De todas as decisões que eu já tomei na vida, uma das mais certas foi ter prestado Fuvest. Eu gosto de estudar e me sinto bem no ambiente questionador da USP, entre pessoas que não aceitam simplesmente o que está sendo exposto pelo professor, mas buscam pesquisar e saber mais.

É um lugar de produção de conhecimento (ao contrário da maioria das faculdades, que simplesmente transmite e divulga conhecimentos já existentes).

Muita gente (em especial, quem não passou na Fuvest) gosta de criticar as constantes greves na USP. É verdade, acontecem de monte. Nem sempre eu concordo os que motivam essas greves, o movimento estudantil anda bem desorganizado, mas no meio de toda a confusão, consigo enxergar uma pequena luz. Vejo que há pessoas que buscam mudar certos paradigmas. Para usar um clichezão, gente que luta contra o "sistema".

Como eu já disse, nem sempre sou a favor dessas lutas. Mas as considero legítimas em uma democracia. No entanto, o que aconteceu na USP ontem é tão aviltante que eu nem sei por onde começar meu comentário.

A Polícia Militar não tinha de estar no campus. A manifestação não era caso de polícia. A reitora (que, TODO MUNDO SABE, foi colocada lá pelo governador de São Paulo) chamou a PM pelo simples fato de não ter coragem nem competência administrativa de negociar os pedidos com os funcionários, professores e estudantes.

A PM estava na USP há uma semana. Simplesmente com a finalidade de pressionar qualquer manifestação - quando poderiam estar cuidando da segurança dos cidadãos paulistas onde isso é realmente necessário. Como era de se esperar, a panela de pressão explodiu ontem e o resultado foram bombas, pauladas e tiros de borracha. Uma das balas disparadas atingiu uma professora da Letras que eu DUVIDO que tenha ameaçado algum PM. Ou seja, eles atiraram a esmo.

Assim como no embate entre Militar e Civil que aconteceu em São Paulo no ano passado (e o governador se omitiu, assim como fez no caso da USP), a Polícia paulista mostra todo o seu despreparo.

A Polícia é ineficiente. A saúde pública está mergulhada no caos (só quem já precisou sabe). Nas escolas estaduais, são distribuídos livros com palavrões e mapa com dois Paraguais.

Poucos governos investem em educação porque quanto mais cabeças pensantes, menos chances eles terão de serem eleitos.

E o José Serra quer ser presidente da república. Você vai votar nele?

terça-feira, junho 09, 2009

Eu nunca fui muito fã do Karev. Mas foi lindo o que ele disse no episódio de ontem:

"It doesn't matter how tough we are. Trauma always leaves a scar. It follows us home, it changes our lives. Trauma messes everybody up. But, maybe that's the point. All the pain and the fear and the crap. maybe going through all that is what keeps us moving forward. It's what pushes us. Maybe we have to get a little messed up. Before we can step up."

Preciso dizer (de novo!) porque eu amo Grey's Anatomy?

segunda-feira, junho 08, 2009

Se existe algo que eu gosto de fazer quando estou em casa é zapear. Com exceção dos momentos em que eu estou vendo meus seriados preferidos (Grey's Anatomy, Private Practice, House...), eu fico mudando de canal até achar algo interessante. E, acreditem ou não, às vezes eu acho.

Há umas duas semanas (eu acho...), parei em um documentário da Cultura chamado "Um certo olhar" sobre o Fernando Meirelles. E é sempre bom constatar que algumas pessoas não perdem a essência mesmo quando tem fama ou exercem uma posição de poder. Pelo que ele disse e pelo depoimento das pessoas que conhecem o aclamado diretor, ele continua sendo um cara atencioso, educado, simpático e humilde. Assino embaixo o que a Regina Casé disse: "se um dia criarem um curso 'como ser Fernando Meirelles', vou ser a primeira a me inscrever".

Outro programa diferentíssimo de tudo que eu achei - e, pasme, na TV aberta - foi o tal E24. Quando comentei com a galera que trabalha comigo, notei que o programa já é famoso, porque mostra, sem cortes, os mais diversos atendimentos médicos em hospitais públicos de São Paulo. Eu sei, eu sei, parece carniceiro demais (e, em alguns momentos, é mesmo!), mas para mim, que adoro essas coisas médicas (vide os meus seriados favoritos) foi uma experiência hipnotizante. Eu vi de hemorragia interna à bebedeira, passando por uma amputação de braço e esfaqueamento por ex-marido maluco e, por mais que certas cenas impressionem, não conseguia parar de ver.

Ambos recomendados. Assim como eu recomendo "Uma Noite no Museu 2". É filme de criança, mas é TÃO legal. Já o "Wolverine", esperem sair em DVD. Nem compensa ir ao cinema.

terça-feira, junho 02, 2009

Pode ser que ele seja um fanfarrão e faça tudo no Photoshop. Mas se fosse o caso, já estaria cheio de processos nas costas, não? De qualquer jeito, vale clicar aqui e ver mais uma previsão do Jucelino da Luz.

De acordo com o site dele, ele previu até o assassinato de Isabella Nardoni. Será?